Multiculturalismo e sua comercialização

Publicado: 13 septiembre 2020 a las 6:00 pm

Categorías: Artículos

Por: Laura Janaina Dias Amato

Giz De Cera Diversas Cores De Pele – Jeff Siepman   Unsplash (1)

Quando eu era criança, na escola, ao pintarmos uma figura devíamos seguir as cores “padrão”, ou seja: o tronco da árvore deveria ser marrom, a copa verde e os frutos vermelhos (como uma boa macieira). Todas as árvores eram macieiras corpulentas, com vastas copas verdes. E as pessoas? Todas tinham a mesma cor, a chamada “cor da pele”, que era um rosa clarinho, puxando para o bege. Não me lembro de ver pessoas amarelas, pretas ou marrons, muito menos vermelhas… E nunca questionamos isso, afinal, nos anos 80 e 90 questionar professor era sinônimo de aluno rebelde. O porquê dessas cores e muito menos a razão do rosa claro ser a cor da pele, nunca soube. Ou melhor, soube sim, mas já adulta e podendo refletir sobre a temática da diversidade. Nas minhas décadas de vida eu nunca vi um ser humano com esse tom de pele dos desenhos escolares da minha infância, nem bebês. Cresci e me acostumei com o nome do lápis “cor de pele”, mesmo não me sentindo representada pela cor, já que se fosse me representar em forma gráfica, seria uma cor mais voltada para o café com leite. Mas que bom que as pessoas não cresceram como eu e se incomodaram desde muito cedo e com isso provocaram mudanças. Por exemplo, o livro infantil “A cor de Coraline” traz uma linda reflexão sobre a beleza da multiplicidade do ser, problematizando de maneira gentil e profunda questões sobre a diversidade e tangenciando questões sobre a raça.

Nesse mesmo intuito e embalados pelo discurso de respeito à diversidade, marcas de lápis e giz de cor produziram caixas com produtos com diversas tonalidades, consideradas de pele; com nomes sugestivos como “tons de pele”, “caras e bocas” a indústria aproveitou-se de um filão importante, utilizando como marketing a igualdade de raças. Em uma ida à papelaria encontro uma caixa de giz de cera com o nome “multicultural”, com um desenho de crianças com tonalidades de cabelos diversas e uma criança negra. Interessante notar que a marca se toma de um conceito social para abordar o que as outras marcas também já fizeram: a inclusão de outras cores para representar outras raças. Desta forma, o multicultural do lápis se traduz somente em relação à questão racial, não que esta não seja importante ou relevante, ignorando todos os outros aspectos ligados ao termo em questão. Contudo, ao banalizar o conceito, obliteramos uma discussão que tem como intuito, seguindo uma matriz do multiculturalismo crítico e de resistência de McLaren (1997), trazer à baila os conflitos que permeiam as relações de gênero, sexo, religião, entre outras socioculturais. Não que eu espere que uma caixa de giz de cera promova isso, mas a marketização de um conceito, banalizando-o, pode esvaziá-lo e assim podendo promover um multiculturalismo liberal, na qual a tolerância é validada.

Fonte do artigo: 

http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/multiculturalismo-e-sua-comercializaca0/

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