
Especialistas criticam mudança na política do governo para alunos com deficiência
Publicado: 8 octubre 2020 a las 6:00 pm
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Brasil 08 de outubro 2020/ Por: Vinícius Lemos, BBC/ Fonte: https://g1.globo.com/
Advogada Camilla Varella com o filho caçula, Luiz Antônio, de 12 anos; para ela, escola especial não ajudou filho com autismo — Foto: Arquivo Pessoal
Quando matriculou o filho em uma escola especial, a advogada Camilla Varella, de 46 anos, acreditava que havia encontrado a melhor forma para que ele pudesse se desenvolver. Um ano e meio depois, ela percebeu que se equivocou. «Ele não evoluiu nada», relata à BBC News Brasil.
Após a situação, ela decidiu matriculá-lo no ensino regular e considera que o filho, que tem autismo moderado, tem um bom desenvolvimento. «Hoje, sinto que ele é incluso», diz.
A experiência que Camilla viveu com o filho se tornou uma lembrança frequente para ela desde a semana passada, após a publicação da Política Nacional de Educação Especial (PNEE), criada por decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Especialistas apontam que a PNEE, publicada em 1º de outubro, incentiva que alunos com deficiência sejam levados a escolas ou salas especiais. A medida é classificada por estudiosos como um retrocesso na educação inclusiva.
Um projeto de lei já foi apresentado no Senado para anular os efeitos do decreto de Bolsonaro.
Na PNEE de 2008, a mais recente antes da assinada na semana passada, o principal foco era a matrícula de alunos com deficiências em turmas regulares, com apoio complementar especializado quando necessário.
«Hoje, a preferência para crianças com deficiência sempre é a escola comum. Porém, isso pode mudar com a alteração do decreto, que é uma forma de autorizar a segregação dessas crianças em salas ou escolas especiais», diz Luiza Correa, uma das coordenadoras do Instituto Rodrigo Mendes, que atua na busca por inserção de pessoas com deficiência no ensino regular.
Após a publicação do decreto de Bolsonaro sobre o ensino especial, diversos pais foram às redes sociais para criticar a medida. Muitos usaram a hashtag «Escola especial não é inclusiva».
Segundo o Censo Escolar 2019 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), há 1.250.967 estudantes com deficiência na Educação Básica no Brasil. Desses, 87% estão em escolas regulares e em classes comuns, enquanto 13% estão em escolas ou classes especiais. Os dados representam um importante avanço na inclusão, em comparação a anos anteriores.
Apesar das críticas, o Ministério da Educação argumenta, em nota à BBC News Brasil, que a PNEE de Bolsonaro é positiva, pois tem o objetivo de ampliar a área de educação especial, por meio de escolas e classes especiais, além das escolas regulares inclusivas.
Assim como outros pais, Camilla Varella também classificou a PNEE de Bolsonaro como um retrocesso.
Por ter um filho com autismo moderado — transtorno caracterizado por uma desordem complexa do desenvolvimento cerebral —, Camilla vivenciou as dificuldades relacionadas à inclusão escolar.
Luiz Antônio, o filho caçula dela, foi diagnosticado com autismo aos dois anos e meio. Pouco depois, ele começou a estudar em uma escola regular em São Paulo (SP), cidade em que a família mora.
A mãe considerava que ele pudesse se desenvolver na unidade de ensino, por considerar que o contato com outras crianças da idade dele seria fundamental para o garoto, pois uma das características do autismo é a dificuldade na socialização e comunicação.
A advogada relata que após o filho passar cerca de um ano na escola, a diretora do local informou que o garoto estava «causando constrangimento», em razão de seu comportamento diferente das outras crianças. «Eu senti o preconceito na pele. Simplesmente o retirei daquela escola e procurei uma especial», conta Camilla.
Quando filho era menor, Camilla tentou colocá-lo em escola especial, mas ela relata que notou que o filho não evoluiu com a experiência — Foto: Arquivo pessoal
Na escola especial, segundo a advogada, Luiz Antônio regrediu. «Foi muito ruim, porque ele não convivia com crianças com desenvolvimento considerado normal. O autismo dele ficou mais severo, porque ele pegava os mesmos comportamentos dos outros. Era uma unidade de ensino pouco lúdica, focada mais nos tratamentos das crianças», detalha a mãe do garoto.
Ela conta que tirou o filho da escola depois de quase dois anos, após uma festa de fim de ano. «Durante uma apresentação, cada criança estava com um adulto por trás, até mesmo pra levantar o próprio braço. Pensei: como estão ensinando essas crianças a evoluir, se estão fazendo tudo por elas?», diz.
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