O mago dos livros

Publicado: 16 octubre 2020 a las 6:00 pm

Categorías: Artículos

Por: Iriam Starling

Livro Aberto Flutuando Dentro De Um Arco De Livros E Estantes De Livros Ao Fundo. Jaredd Craig   Unsplash

Há quem diga que magia não existe, mas posso lhes afirmar que existem muitos magos e ainda mais magas. Sei que vão concordar comigo, ao final deste artigo, pois sou uma dessas “magas dos livros” e conheço outras dezenas de magas e magos.

A educação no Brasil, que já não era um “primor”, foi duramente atingida pela pandemia. Enquanto professores, prefeitos, governadores e sindicatos discutem se os alunos voltam ou não para as salas de aula, nossas crianças e nossos adolescentes perderam muito do conteúdo disciplinar. O tempo não volta atrás, então, nos resta seguir em frente, mesmo com esse sistema de ensino medieval. E ele é medieval em todas as escolas, públicas e privadas.

Quando é que o povo vai acordar e reivindicar melhorias reais? Presenciamos mudanças pontuais aqui e acolá, por iniciativa de alguns professores, diretores ou mesmo de editores. Projetos que levam as crianças para fora da sala se aula, ou mesmo em sala, mas fazendo experimentações com fotografia, literatura, música, dança, teatro, ciências, e outras mais. Vejo professores se queixando dos alunos 100% conectados com o mundo, por meio de seus celulares, em sala de aula, mas entendo que o melhor seria aproveitar essa poderosa ferramenta para instigar os alunos a buscarem mais conhecimento e estimular sua criatividade e discernimento, afinal, há muito “lixo” na internet ao lado de ótimos conteúdos. É preciso aprender a separar o joio do trigo.

Não consigo entender como os adultos se esqueceram tão rápido de sua infância e adolescência, cheios de energia, ávidos por conhecimento e obrigados a ficarem quietos e calados por horas.

Nesse cenário desolador, é com um aperto no peito que vejo, impotente, muitas editoras, gráficas e livrarias “quebrando” e bibliotecas fechando suas portas. Nesta hora é que conhecemos os verdadeiros “heróis da resistência”. As pequenas editoras são bem diferentes de grandes grupos editoriais. O editor ou tem uma microempresa familiar, ou possui de um a quatro funcionários, no máximo, ou mesmo nenhum funcionário. Precisam contratar profissionais freelancers para conseguir produzir seus livros e, frequentemente, contam com o apoio financeiro dos próprios autores. Há pequenas editoras muito ruins, mas essas, felizmente, são minoria. Isso porque o editor de uma microempresa tem pouco ou nenhum lucro e, não raro, emprega suas economias na produção dos livros. Está constantemente estudando para aprimorar seus títulos, tanto em livros, como pela internet, congressos e outros eventos literários. Mas pensam vocês que ele cuida apenas de coordenar a produção de livros? Nada disso. Este microeditor administra sua empresa; vira contador de histórias; se faz de livreiro em feiras de livros e escolas; negocia preços com ilustradores, revisores, livreiros e distribuidores; faz o marketing de sua empresa; ilustram alguns de seus livros; tornam-se capistas e diagramadores da própria editora, escrevem alguns de seus livros, enfim, são multifuncionais. As mulheres ainda têm que administrar casa e filhos.

A parte triste dessa história é que tanto esforço não se traduz em vendas. Não por falta de qualidade de seus livros, mas por conta da lógica capitalista que reina no mundo, atualmente, e pela absoluta falta de interesse por parte do poder público em promover uma educação eficaz. Afinal, povo instruído é povo questionador.

O pequeno editor, ao negociar seus livros, já pagou o ilustrador, o revisor, a gráfica, o capista, o diagramador e, não raro, já adiantou algum dinheiro por conta dos direitos autorais do autor. Quando vai negociar com livrarias ou distribuidoras, eles só aceitam livros em consignação, com 50 a 80% de desconto. Como os “revendedores” não correm nenhum risco, não se preocupam em divulgar os livros do pequeno editor, deixam-nos numa prateleira pouco visível e alguns até estragam.

Nas feiras literárias o cenário não é melhor. Com pouco capital, “compram” um estande pequeno, que fica meio sumido entre estandes até 4 vezes maior que o seu e com preço menores. Os custos não se limitam ao valor do estande. Há ainda o transporte, hotel, alimentação;o ajudante e seu transporte e alimentação e, ainda, leva um contador de histórias ealguns autores. As vendas, raramente cobrem mais que os custos do evento, ou seja, os custos dos livros não são cobertos e, no final, o editor logrou prejuízo.

Mas então, por que participar desses eventos? Porque, pelo menos, o editor está divulgando seus livros e tendo contato direto com o público. Não há nada mais gratificante do que ver a alegria de uma criança ao ganhar um livro ou brilho no olhar de um jovem ao adquirir seu exemplar e poder ganhar o autógrafo do autor ali, bem na sua frente.

Ainda bem que livro não precisa de selo da vigilância sanitária para ser vendido, mas ainda assim, o governo ousa regular os assuntos, limitar a liberdade de expressão e censurar conhecimento. Mas não desistimos, pois o que nos move é muito maior que a opressão capitalista: é o mais puro amor pela arte e pela literatura.

Fonte do Artigo:

http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/o-mago-dos-livros/

Imagem de destaque: Jaredd Craig / Unsplash

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