Peru: Aulas na pandemia: 4 problemas do ensino on-line apontados pelo professor que anunciou sua desistência ao vivo para alunos

Publicado: 12 noviembre 2020 a las 7:00 pm

Categorías: Noticias / Noticias América

Peru 12 de novembro 2020/ Por: BBC/ Fonte/https://g1.globo.com/

 

O peruano Juan Francisco Baldeón viralizou, sem querer, ao ser gravado em um desabafo com seus estudantes. Em conversa com a BBC, ele reflete sobre como a pandemia prejudicou as relações entre docentes e alunos.

Pandemia fez com que aulas presenciais migrassem para a internet — Foto: Getty Images

Pandemia fez com que aulas presenciais migrassem para a internet — Foto: Getty Images

Há 17 anos dando aulas, o professor universitário peruano Juan Francisco Baldeón não é novato na profissão. Também já tinha familiaridade com o ensino à distância: há três anos, ele dá aulas on-line.

Mas Baldeón diz que, com a pandemia, chegou a um nível sem precedentes de frustração com a docência, o que o levou a anunciar, durante uma aula em outubro, que pensava em deixar de ser professor

“Já não tenho mais vontade de ensinar vocês, estou farto de verdade”, disse ele a uma turma da Universidade Nacional Federico Villarreal (UNFV), durante uma sessão na plataforma Zoom.

“Vão dizer que ‘é o professor que não me ensinou nada’. E não é que eu não ensinei, você que não leu. (…) Estou cogitando a possibilidade de me demitir e ir embora.”

O desabafo viralizou em países da América Latina e evidenciou as dificuldades de professores com a migração do ensino presencial para o virtual por causa da pandemia.

“Passou dos meus limites”, diz Baldeón à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Depois de conversas com seus coordenadores, o professor decidiu que continuará a dar aulas de Direito na universidade.

Mas diz que não tem sido fácil enfrentar os desafios com que professores têm se deparado no contexto atual — e que desencadeiam momentos de frustração como o que ele viveu.

1. Desconexão com os alunos

 

O Peru é um dos países com uma das taxas de mortalidade mais altas pelo novo coronavírus e viveu um isolamento social obrigatório entre abril e outubro, fazendo com que, à semelhança do Brasil, as aulas tenham ficado durante meses limitadas ao ambiente virtual.

Baldeón explica que, durante a aula que o fez perder a paciência, os alunos não haviam feito as leituras exigidas para o dia. Um deles gravou o momento em que o professor reclamou da falta de participação da turma.

Juan Francisco Baldeón é professor universitário de Direito desde 2003 — Foto: BBC

Juan Francisco Baldeón é professor universitário de Direito desde 2003 — Foto: BBC

Baldeón explica que, naquele dia, sua intenção não era abandonar todas as aulas que ministrava, mas sim aquela turma em questão, que ele considerava desinteressada.

“Parece que os alunos estão de certa forma indiferentes por causa da pandemia”, opina Baldeón. “Já tinha dito que estava faltando com respeito à aula e a eles mesmos. E que tinham que participar de qualquer aula, fosse remota ou presencial.”

Ele acredita que a maior dificuldade nas aulas online é o “rompimento do vínculo entre professor e alunos”, vital para o processo de aprendizado.

“Uma tela não é uma universidade”, diz ele, citando o pedagogo espanhol Miguel Ángel Santos Guerra.

“O ser humano é um ser social por excelência. Parece que é a mesma dificuldade enfrentada por todos os docentes do mundo. Não imagino como um professor de Medicina pode ensinar uma cirurgia. O que exige prática é muito mais difícil.”

2. Ausência da resposta não verbal dos alunos

 

Nas aulas online da UNFV, os alunos não são obrigados a manter a câmera ligada. Para Baldeón, isso cria outra dificuldade: o professor não consegue ver a reação não verbal dos estudantes para saber se estão ou não acompanhando o conteúdo.

“Notam-se no rosto os sentimentos e emoções dos estudantes quando aprendem um tema”, diz ele. “Quando um não entende, o professor está olhando. Vê sorriso, raiva ou preocupação. E repete novamente (o conteúdo).”

Isso muitas vezes se perde nas aulas online em que os professores veem apenas as fotos dos alunos.

“Quando acaba a aula, não interajo com meus alunos, porque (a sessão) acaba”, acrescenta Baldeón, ao explicar que os estudantes acabam perdendo a oportunidade de tirar dúvidas fora do horário de aula, como fariam se estivessem na universidade.

3. Não há motivação do grupo

 

O desinteresse pelas leituras acontece também nas aulas presenciais, reconhece Baldeón. Mas ele acha difícil replicar nas aulas virtuais a motivação que acontece dentro da sala de aula.

“O processo de aprendizagem é coletivo”, defende ele. “Os alunos que não são naturalmente afeitos à leitura perdem o incentivo de participar, porque não têm a pressão dos colegas.”

No ensino universitário, diz ele, a leitura é particularmente importante, porque “o universitário tem que estar comprometido a absorver o conhecimento como uma esponja”.

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