Luciano Larrossa: “As redes sociais não são gratuitas. E vão ser cada vez menos”

Publicado: 5 abril 2021 a las 3:00 pm

Categorías: Entrevistas

Por: Ricardo Simões Ferreira

Para ser bem-sucedido a vender em plataformas como o Facebook não basta criar conteúdo e esperar pelos likes. É preciso saber investir. É esta a mensagem essencial do livro Instagram, WhatsApp e Facebook para Negócios, que explica, passo a passo, como ganhar dinheiro online. O autor deixa-nos ainda alguns conselhos.

Luciano Larrossa: "As redes sociais não são gratuitas. E vão ser cada vez menos"

Como fazer dinheiro na internet? Podem não existir fórmulas mágicas, mas em Instagram, WhatsApp e Facebook para Negócios, o livro lançado em março em Portugal do “guru” desta área Luciano Larrossa, o trabalho fica, sem dúvida, bem mais facilitado. Um livro que não se perde em teorias ou conjeturas inúteis sobre a melhor forma de fazer e-commerce, que vai direto ao assunto e que pede – aliás, exige – que regressemos a ele de cada vez que estamos à frente do ecrã e a rede social nos faz uma pergunta esquisita. Muito provavelmente, a resposta está numa das páginas. E até é capaz de ter um quadro a acompanhar…

Este é um livro que se lê quase como um manual de instruções. Era esse o objetivo?Sim. Este é um novo livro, mas tem como base um livro que eu já escrevi em 2013 e fui praticamente reescrevendo todos os anos, ou a cada dois anos, que era o Facebook para Negócios. Este aqui, digamos, que é um upgrade desse e incluímos o Instagram e o WhatsApp porque vimos que faria agora mais sentido. Quando eu escrevi o livro anterior, o Facebook era a única rede social que existia, praticamente. Hoje em dia, para se vender na internet temos de usar não apenas uma rede, mas uma boa quantidade de redes. [Temos] às vezes de levar a pessoa do Facebook para o WhatsApp, do Instagram para o WhatsApp, do Facebook para o Instagram e comunicar entre elas. Assim, na minha visão fazia mais sentido falar sobre todas elas nesta edição.

Que feedback tem tido? Há alguma coisa que as pessoas têm sentido que falta no livro?
O feedback que eu tenho é bem interessante: “Olha, isto, para mim, é uma bíblia que tenho ao lado e sigo passo a passo quando vou fazendo anúncios no Facebook, ou anúncios no Instagram, ou seguindo as coisas no WhatsApp.” Eu sinto que as pessoas o veem muito como um manual que elas têm na mesa de escritório para consultar de cada vez que vão trabalhar as redes sociais. Assim, cumpri o objetivo que queria: a pessoa poder ter um livro para a acompanhar enquanto está a fazer os seus anúncios, principalmente – aquilo é muito focado em anúncios pagos.

É. O objetivo do livro é vender às pessoas aquilo que elas querem e entregar aquilo de que elas precisam. Ou seja, às vezes vão com a ideia de que “ah, eu quero vender pelo Facebook e Instagram” e acham que só criar conteúdo é suficiente. E ao lerem o livro irão perceber que, até matematicamente, algoritmicamente, é quase impossível ou é raro conseguirmos manter um bom volume de vendas dependendo apenas do conteúdo. Iremos, em algum momento, precisar de [comprar] anúncios, pois, se estamos a vender bem através do conteúdo, talvez se estivéssemos a usar anúncios estaríamos a vender muito mais. Então o anúncio é sempre benéfico, quer para quem esteja a vender, quer para quem ainda não esteja a vender. E o objetivo do livro é mostrar à pessoa: “Olha, OK, podes começar com conteúdo, podes criar a tua conta, mas isso não vai ser suficiente para criares um negócio de verdade que dependa da internet.”

Vimos isso na pandemia: muita gente aderiu ao e-commerce, mas uma coisa é abrirmos uma loja de rua e as pessoas que passam poderem vê-la, outra coisa é na internet. Se eu abrir um e-commerce e não estou no Google, ou não estou nas redes sociais, o meu e-commerce não é visto e, se não é visto, eu não vendo. Então muitos deles entenderam que: “Eh pá! Afinal eu preciso de anúncios.” Assim, o objetivo do livro é abrir a mente para os anúncios e, depois, para a prática que vai trazer a clareza de como fazer anúncios da forma correta.

 

“As pessoas caem no erro de relacionar mais fãs com mais vendas. E isso não é propriamente verdade. O nosso ego pode levar-nos a achar que estamos a fazer coisas certas e, na verdade, está a levar-nos a fazer o que não deveria ser feito.”

 

Este é um mundo que está em permanente mudança…
Completamente.

Já tem em mente uma versão atualizada do livro?
[Risos.] Eu escrevo uma versão nova praticamente todos os anos. Esse é um cuidado que temos com os leitores. Porquê? Porque eu já tive a experiência de comprar um livro técnico e ele estar desatualizado, o que não foi bom. Obviamente que as coisas têm um tempo de duração, mas as mudanças também não são diárias. E por isso nós conseguimos, a nível de logística, ter a possibilidade de produzir uma nova edição praticamente a cada ano ou a cada dois anos. Outra das formas que eu fiz para que o livro não perdesse o valor tão rapidamente foi: a maioria dos conteúdos é intemporal. São conceitos que não mudam com a ferramenta. Se o Facebook muda um botão, o conceito é o mesmo. Foi esse o cuidado que eu tive ao escrever também.

Refere no livro fatores intangíveis, como empatia com o público-alvo, ou até escreve que as estatísticas não nos contam tudo, que há coisas que têm mais a ver com o nosso instinto. Está a dizer que isto das redes sociais é mais um jogo de casino, coisas do instinto, do que um processo lógico?
Em algumas coisas, sim. Porque, por exemplo, as pessoas caem no erro – e as redes sociais fazem por isso – de relacionar mais seguidores ou mais fãs com mais vendas. E isso não é propriamente verdade. Talvez não seja tanto um casino, mas sim saber olhar quais são os dados certos e como olhar para eles da forma correta. Os dados podem ser manipulados a nosso favor ou contra nós, e nos negócios é igual: se trabalharmos muito o nosso ego, vamos achar que mais likes no post significa mais vendas. Nem sempre. Por exemplo, eu não sou uma pessoa que tenha muita interação nas redes sociais. Tenho menos interação que uma página de humor. Mas posso garantir que vendo mais do que a maioria das páginas de humor em Portugal. Há um livro muito interessante, que se chama O Ego É o Seu Inimigo, do Ryan Holiday, e ele fala sobre como, muitas vezes, o nosso próprio ego pode levar-nos a achar que estamos a fazer coisas certas e, na verdade, está a levar-nos a fazer o que não deveria estar a ser feito.

Tem dificuldade em explicar isso a algumas pessoas?
Principalmente a quem chega a mim pela primeira vez… Primeiro, ainda acham que as redes sociais são gratuitas e que só gerar conteúdo é suficiente. Depois, muitas pessoas acham que mais seguidores significa mais vendas ou mais likes significa mais vendas.

A maioria das pessoas, quando chega até mim, já está com uma mente mais aberta. Mas se tivéssemos de pegar estatisticamente no público comum, esse realmente ainda acredita nisso. E depois há uma camada ainda mais profunda, que são aquelas pessoas que têm dúvidas se vender na internet é para elas ou não.

 

“O objetivo do livro é vender às pessoas aquilo que elas querem e entregar aquilo de que elas precisam. Abrir a mente para os anúncios e, depois, para a prática, a clareza de como fazer anúncios da forma correta.”

 

Na realidade, não podemos dizer que estamos, de alguma forma, escravizados às vontades do [Mark] Zuckerberg [fundador do Facebook] e companhia, que, de um momento para o outro, podem mudar as regras do jogo e dar-nos cabo do negócio?
Sim. Por isso é que eu digo às pessoas que não devem depender apenas de uma rede. Por exemplo, no meu caso, eu tenho as redes sociais, mas tenho também uma lista de e-mail marketing, tenho um canal de Telegram, tenho um canal de YouTube. E o que digo aos meus alunos é o seguinte: “Se o vosso negócio depende só de uma rede social, vocês não têm um negócio.” Quando estamos numa rede social, nós estamos a criar uma casa num terreno alugado. Então isso significa o quê? Que a partir do momento em que o dono do terreno disser que não podemos mais ter lá a nossa casa, nós somos excluídos e todo o nosso negócio vai por água abaixo.

Apesar de eu adorar as redes sociais – porque, a partir delas, já vi vários negócios serem mudados -, também não sou cego. É importante diversificar. Como tudo na vida, diversificar é tranquilidade.

O que vê atualmente no universo online que posssa vir a mudar o mercado?
O TikTok é o único que eu vejo que tem algum potencial, de alguma forma, e porque está num ecossistema diferente, o chinês… Até aqui, tudo o que tem surgido é dos Estados Unidos. No TikTok estamos a falar de um ecossistema de aplicações que têm uma relação muito próxima com o Estado – e em que até já vemos uma guerra entre Estados Unidos e China na questão desta app.É uma aplicação em que o algoritmo realmente funciona muito bem. Se nós entrarmos no TikTok e, sei lá, começarmos a consumir conteúdos sobre ténis, vamos receber só vídeos de ténis. Eles não têm necessidade de anúncios, porque têm por trás um financiamento muito forte, mas podem conquistar uma parcela muito grande da população. E ganham dados – e o governo chinês sabe muito bem que os dados são o “novo petróleo”.

Mas é possível potenciar o TikTok enquanto ferramenta de vendas?
De forma indireta, sim. A partir do momento em que nós temos a atenção das pessoas, temos possibilidade de vendas. Se eu tiver milhares de seguidores no TikTok…

Ok, compreendo, chega a milhares de pessoas, comunica. Voltando ao que vê acontecer hoje em dia. A dada altura, no livro, afirma que quanto mais conteúdo se gera mais as pessoas compram. Isto faz sentido quando falamos em bens ou serviços, por exemplo, mas no caso da informação, esta continua a ser a área com mais dificuldades em conseguir dinheiro com as redes sociais. Tem alguns conselhos para deixar aos media?
[Risos.] Essa é uma pergunta de um milhão de dólares. Sinceramente, se eu soubesse essa resposta – como monetizar? – já teria aberto um jornal. [Risos.] Não sei como responder a isso. O que eu posso dizer é o seguinte: dos poucos casos que li, é que os media que se tornaram mais independentes das redes sociais e que não se renderam aos likes ou às “mais visitas” foram os que continuaram com uma audiência mais fiel. Aos media, eu queria deixar, talvez, este aviso: não se rendam ao clique fácil ou às coisas mais chamativas do Facebook só para terem mais cliques, porque cliques valem muito pouco, principalmente a longo prazo.

Nos negócios online, quais são os maiores erros que vê os utilizadores fazerem?
Além do que já falámos, da questão dos likes e dos seguidores e das métricas, o que eu vejo principalmente é na atitude do empreendedor. Tem a ver com o facto de eu trabalhar no Brasil e para os dois lados do Atlântico. O empreendedor brasileiro, até por necessidades sociais, tem muito mais vontade de arriscar, tem muito mais vontade de investir, de crescer, de ter mais – até porque, se ele não tiver dinheiro, não tem segurança, não tem um serviço de saúde, e isso acaba por ser uma coisa também social. Em Portugal, eu vejo que os empreendedores têm muito medo de arriscar. São capazes de ficar preocupados por investirem 20 euros em anúncios, mas estão tranquilos em gastar 40 euros num juntar, por exemplo. Às vezes, falta a prioridade certa na hora de investir, cá pensam pequeno. Esse é um erro na hora do investimento. Aqui há muito: “Eu vou só investir um bocadinho.” Outro erro é achar que redes sociais são gratuitas. Elas não são gratuitas e vão ser cada vez menos gratuitas. Esse é um ponto importante, porque a concorrência aumenta e, quando a concorrência aumenta, o nosso espaço diminui. E como é que nós podemos garantir o nosso espaço? Investindo. O empreendedor que investe corretamente tem retorno, o que investe incorretamente tem gasto. Esse é um outro ponto muito importante. E o terceiro erro que eu vejo é o empreendedor delegar o seu próprio marketing completamente noutra pessoa. Por melhor que a outra pessoa seja, quando nós entendemos de marketing ou de qualquer outra coisa, sabemos exigir mais e melhor a quem delegamos as funções. Se eu for empreendedor e se tiver uma noção de anúncios, quando eu for contratar alguém para comprar anúncios – e acho que isso deve acontecer em algum momento -, eu vou saber exigir muito mais a essa pessoa do que quando eu não faço a mínima ideia de como se faz um anúncio. Então, um empreendedor atual precisa entender que não vai perceber só do seu próprio produto. Ele vai ter de perceber de marketing, de serviço, um bocadinho de finanças, um bocadinho de site, um bocadinho de Google…Sim, não dá para delegar a 100% todas essas funções.

Algum conselho especial para quem queira começar agora a vender nas redes sociais?
Comece agora, não deixe para depois. Já vi isso acontecer. Vi pessoas que falaram comigo em 2013, 2015, “ah, estou a pensar…”, e depois não puseram em prática, e hoje, com a pandemia, viram-se obrigadas e veem-se aflitas para começar. Só que hoje a curva de aprendizagem é muito mais longa, o custo de oportunidade é muito mais caro, os anúncios estão também mais caros. O meu conselho é: comecem. Ontem seria o melhor dia, hoje é o segundo melhor dia.

Entre Portugal e o Brasil a ensinar

Nascido em Portugal mas atualmente radicado no Brasil, “Tio Lu”, como é conhecido nas redes sociais, dedica-se ao ensino desde os 17 anos. Numa primeira fase, foi ténis que ensinou, no Clube de Ténis de Alcobaça. Mas rapidamente se dedicou às chamadas “novas plataformas de comunicação”: a interntet.

Hoje, Luciano Larrossa é um dos maiores especialistas do mercado de língua portuguesa em marketing e publicidade em Instagram e Facebook, trabalhando nesta área há mais de oito anos.

Além dos livros que escreve, dá aulas online – pelo canal do YouTube com o seu nome -, faz serviço de consultoria, além de ser editor do blogue Apptuts, site dedicado a notícias e críticas de apps para Andoid e iOS que conta com mais de 2,5 milhões de visitas por mês.

Neste seu mais recente livro, o leitor é levado desde o primeiro passo – como criar uma conta no Facebook – até aos mais avançados modelos para investir nestas redes sociais, de forma a potenciar os seus negócios. Tudo numa linguagem direta e, sempre que possível, com imagens.

Para saber mais sobre o autor, pode consultar a sua página oficial em lucianolarrossa.com.

ricardo.s.ferreira@dn.pt

Fonte: 

https://www.dn.pt/sociedade/luciano-larrossa-as-redes-sociais-nao-sao-gratuitas-e-vao-ser-cada-vez-menos-13531079.html

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