“La agricultura de la Zona Tórrida”, de Andrés Bello, en portugués

Publicado: 10 noviembre 2020 a las 3:00 am

Categorías: Poesía

Escrito por Don  Andrés Bello

Traducción: Pedro Sevylla de Juana

A agricultura da Zona Tórrida

Salve, fecunda zona,
Que ao sol apaixonado circunscreves
O vago curso, e quanto ser se anima
No cada vário clima,
Acariciada da sua luz, concebes!
Tu teces ao verão sua guirlanda
De granadas espigas; tu a uva
Dás à fervente cuba:
Não de purpúrea flor, ou vermelha, ou jalne
A tuas florestas belas
Falta matiz algum; e bebe nelas
Aromas mil o vento;
E greis vão sem conto
Pastando tua verdura, desde o plano
Que tem por confim o horizonte,
Até o erguido monte,
De inaccessível neve cinzento sempre.
Tu dás a cana formosa,
De onde o mel se acendra,
Por quem desdenha o mundo os favos:
Tu em urnas de coral coalhas a amêndoa
Que na espumante xícara transborda:
Ebule carmim vivente em teus nopais,
Que afronta fosse ao múrice de Tiro;
E de teu anil a tinta generosa
Êmula é da lume da safira;
O vinho é teu, que a ferida agave
Para os filhos verte
Do Anáhuac feliz; e a folha é tua
Que quando de suave
Fumo em espiras vagarosas fuja,
Consolara o tédio ao lazer inerte.
Tu vestes de jasmins
O arbusto cafezeiro,
E o perfume lhe dás que nos festins
A febre insana temperará a Lico.
Para teus filhos a eminente palma
Seu vario feudo cria,
E o ananás sazona sua ambrosia:
Seu alvo pão a mandioca,
Suas loiras pomas a batata educa,
E o algodão desdobra à aura leve
As rosas de ouro e o velo níveo.
Tendido para ti o maracujá fresco
Em ramadas de verdor loução,
Pendura de seus sarmentos trepadores
Nectáreos globos e franjadas flores;
E para ti o milho, chefe altaneiro
Da espigada tribo, inche seu grão;
E para ti a bananeira
Desmaia ao peso da sua doce carga
A bananeira, primeiro
De quantos concedeu belos presentes
Providência às gentes
Do Equador feliz com mão longa.
Não já de humanas artes obrigado
O prêmio rende opimo:
Não é à podadeira, não ao arado
Devedor de seu racimo;
Escassa indústria lhe basta, qual pode
Furtar a suas fadigas mão escrava:
Cresce veloz, e quando exausto acaba,
Adulta prole em torno lhe sucede.

Mas ¡oh! se qual não cede
O teu, fértil zona, a solo algum,
E como de natura esmero tem sido,
De teu indolente habitador o fosse.
¡Oh! ¡Se ao falaz ruído
A dita ao fim soubesse verdadeira
Antepor, que da ombreira lhe chama
Do lavrador singelo,
Longe do néscio e vão
Fausto, o mentido brilho,
O lazer pestilento cidadão.
Porquê ilusão funesta
Aqueles que fortuna fez senhores
De tão ditosa terra e pingue e variada,
Ao cuidado abandonam
E à fé mercenária
As pátrias herdades,
E no cego tumulto se aprisionam
De míseras cidades,
onde a ambição proterva
Sopra a chama de civis bandos,
Ou ao patriotismo a desídia enerva;
Onde o luxo os costumes atossica,
E combatem os vícios
La incauta idade em poderosa liga?
Não ali com varonis exercícios
Se endurece o mancebo à fadiga;
Mas a saúde estraga no abraço
De pérfida formosura,
Que põe em almoeda os favores;
Mas passatempo estima
Prender aleivoso em casto seio o fogo
De ilícitos amores;
Ou embebecido lhe achará a aurora
Em mesa infame de ruinoso jogo.
Entanto à lisonja sedutora
Do assíduo amador fácil ouvido
Dá a consorte: cresce
Na materna escola
Da dissipação e o galanteio
A terna virgem, e ao delito estimula
É dantes o exemplo que o desejo.
E será que se formem deste modo
Os ânimos heroicos denodados
Que fundam e sustentam os Estados?
Da algazarra do festim bêbado,
Ou dos coros de leviana dança,
A dura juventude sairá, modesta,
Orgulho da pátria e esperança?
Saberá com firme pulso
Da severa lei reger o freio,
Brilhar em torno aços homicidas
Na duvidosa lide verá sereno,
Ou animoso fará frente ao gênio altivo
Do vaidoso comando na tribuna,
Aquele que já no berço
Dormiu ao arrulho do cantar lascivo,
Que anela o cabelo, e se unge e se atavia
Com feminil esmero,
E em indolente ociosidade no dia,
Ou em criminosa luxúria passa inteiro?
Não assim tratou a triunfadora Roma
As artes da paz e da guerra;
Dantes fiou as rendas do Estado
À mão robusta
Que tostou o sol e calejou o arado:
E baixo o teto humoso camponês
Os filhos educou, que o conjurado
Mundo aplanaram ao valor latino.

Ó! Os que afortunados possuidores
Haveis nascido da terra formosa
Em que resenha fazer de seus favores,
Como para vos ganhar e vos atrair,
Quis natureza bondosa,
Rompei o duro encanto
Que vos tem entre muralhas prisioneiros!
O vulgo das artes laborioso,
O mercador que, necessário ao luxo,
Ao luxo precisa,
Os que almejando vão depois do chamariz
Do alto cargo e da ruidosa honra,
A grei de aduladores parasita,
Gostosos povoem esse infecto caos;
O campo é vossa herança: nele vos gozai.
Amais a liberdade? O campo habita:
Não lá onde o magnata
Entre armados satélites se move,
E da moda, universal senhora,
Vai a razão ao triunfal carro atada,
E à fortuna a insensata plebe,
E o nobre a aura popular adora.
Ou a virtude amais? Ah! ¡Que o retiro,
A solitária calma
Em que, juiz de si mesma, passa a alma
Às ações mostra,
É da vida a melhor mestra!
Procurais duráveis satisfações,
Felicidade, quanta é ao homem dada
E a seu terreno assento, em que vizinho
Está o riso do pranto, e sempre ah! Sempre,
Onde bajula a flor, punça a espinha?
Ide gozar a sorte camponesa;
A prazenteira paz, que nem rancores,
Ao lavrador, nem invejas amargaram;
A cama que mole lhe preparam
O contente, o trabalho, o ar puro;
E o sabor dos fáceis manjares,
Que dispendiosa gula não lhe azeda;
E o asilo seguro
De seus pátrios lares
Que à saúde e ao regozijo hospeda.
O aura respirai da montanha,
Que volta ao corpo lasso
O perdido vigor, que à irritante
Velhice retarda o passo,
E o rosto à beldade tinge de rosa
É ali menos macia por ventura
De amor o chama, que temperou o recato?
Ou menos interessa a formosura
Que de estrangeiro ornato
E enfeites impostores não se cura?
Ou o coração escuta indiferente
A linguagem inocente
Que os afetos sem disfarce expressa
E à intenção ajusta a promessa?
Não do espelho ao importuno ensaio
O riso se compõe, o passo, o gesto;
Não falta ali carmim ao rosto honesto
Que a modéstia e a saúde colora,
Nem a mirada que lançou ao soslaio
Tímido amor, a senda à alma ignora.
Esperais que forme
Mais venturosos laços himeneu,
Onde o interesse barata,
Tirano do desejo,
Alheia mão e fé por homem ou prata,
Que do conforme gosto, idade conforme,
E eleição livre, e mútuo ardor os ata?
Ali também deveres
Há que encher: fechai, fechai as fundas
Feridas da guerra; o fértil solo,
Áspero agora e bravo,
Ao desacostumado jugo torne
Da arte humana e lhe tribute escravo.
Do bloqueado estanque e do moinho
Recordem já as águas o caminho;
O intrincado bosque o machado rompa,
Consuma o fogo; abri em longas ruas
A obscuridade de sua infrutuosa pompa.
Abrigo deem os vales
À sedenta cana;
A maçã e a pera
Na fresca montanha
O céu esqueçam da sua mãe Espanha;
Orne a ladeira
O cafezal; ampare
À terra cacaueira na ribeira
A sombra maternal de seu bucare;
Aqui o vergel, lá a horta ria…
É cego erro de ilusa fantasia?
Já dócil a tua voz, agricultura,
Criadeira das gentes, a caterva
Servil armada vai de curvas paveias;
A vejo já que invade a espessura
Da floresta opaca; ouço as vozes;
Sento o rumor confuso, o ferro soa;
Os golpes o longínquo
Eco redobra; geme a árvore de coral idoso,
Que à numerosa tropa
Longo tempo fadiga:
Batido de cem machados se estremece,
Estoura ao fim, e rende a larga copa.
Fugiu a fera; deixa o caro ninho,
Deixa a prole implume
A ave, e outro bosque não sabido
Dos humanos, vai procurar dolente.
Que olho? Alto torrente
De sonorosa chama
Corre, e sobre as áridas ruínas
Da prostrada selva se derrama.
O rápido incêndio a grande distância brama,
E o fumo em negro remoinho sobe,
Aglomerando nuvem sobre nuvem.
Já do que antes era
Verdor formoso e fresca louçania,
Só defuntos troncos,
Só cinzas ficam, monumento
Da dita mortal, burla do vento.
Mas ao vulgo bravio
Das espessas plantas montarazes
Sucede já o frutífero plantio
Em mostra ufana de ordenados feixes.
Já ramo a ramo atinge
E aos roliços caules furta o dia:
Já a primeira flor da volta o seio,
Belo à vista, alegre à esperança:
À esperança, que rindo enxuga
Do fatigado agricultor a face,
E lá ao longe o opimo fruto
E a colheita arrumadora pinta,
Que leva dos campos o tributo,
Colmado o cesto e com a cingida saia;
E baixo o peso dos longos bens
Com que ao colono acode,
Faz ranger os vastos armazéns.

Bom Deus! Não em vão sue,
Mas à mercê e compaixão te mova
A gente agricultora
Do Equador, que do desmaio triste
Com renovado alento volta agora,
E depois de tanta soçobra, ânsia, tumulto,
Tantos árias de feroz
Devastação e militar insulto,
Ainda mais que tua clemência antiga implora.
Sua rústica piedade, mas sincera,
Ache a teus olhos graça; não o risonho
Porvir que as penas lhe alivia,
Qual de dourado sonho
Visão falaz, desvanecido chore:
Intempestiva chuva não maltrate
O delicado embrião: o dente ímpio
Do inseto roedor não o devore:
Sanhoso vendaval não o arrebate,
Nem esgote a árvore o materno suco
A calorosa sede de longo estio.
E pois ao fim te satisfez,
Árbitro da sorte soberano,
Que solto o pescoço de estrangeiro jugo
Erguesse ao céu o homem americano,
Abençoada de ti se arraigue e medre
Sua liberdade; no mais fundo encerra
Dos abismos a malvada guerra
E o medo da espada assoladora
Ao suspicaz cultivador não arreda
Da arte benfeitora,
Que as famílias nutre e os Estados;
A aturdida inquietude deixe as almas,
Deixe a triste ferrugem os arados.
Assaz de nossos pais malfadados
Expiamos a bárbara conquista.
¿Quantas por todo lado a vista
Não assombram arrepiadas solidões,
Onde cultos campos foram, onde cidades?
De mortes, proscrições,
Suplícios, orfandades,
Quem contará a pavorosa soma?
Saciadas dormem já de sangue ibera
As sombras de Atahualpa e Moctezuma.
Ah! Desde o alto assento
Em que escabelo te são alados coros
Que velam em pasmado acatamento
A face ante a lume da tua frente
(Se merece por dita uma mirada
Tua a sem ventura humana gente),
O anjo nos envia,
O anjo da paz, que ao cru ibero
Faça esquecer a antiga tirania,
E acatar reverente o que aos homens
Sagrado deste, imprescritível foro;
Que alongar lhe faça ao injuriado irmão
(A ensanguentou assaz!) a destra inerme;
E se a inata mansidão dorme,
A acorde no peito americano.
O coração loução
Que desdenha uma feliz obscuridade,
Que no acaso sangrento do combate
Alvoroçado bate,
E cobiçoso de poder ou fama,
Nobres perigos ama;
Baldão estime só e vitupério
O honor que da pátria não receba,
A liberdade mais doce que o império,
E mais formosa que o laurel a oliva.
Cidadão o soldado,
Deponha da guerra a libré;
O laurel de vitória
Pendurado à ara da pátria seja,
E sozinha enfeite ao mérito a glória.
De seu triunfo então pátria minha,
Verá a paz o suspirado dia;
A paz, a cuja vista o mundo cheia
Alma, serenidade e regozijo,
Volta alentado o homem à tarefa,
Alça o âncora a nave, às amigas
Auras se encomendando animosa,
Se enxameia o ateliê, ferve o cortijo,
E não basta a foice às espigas.

Ó jovens nações, que cingida
Alçais sobre o atônito Occidente
De temporãos louros a cabeça!
Honrai ao campo, honrai a singela vida
Do labrador e sua frugal simplicidade.
Assim terão em vos perpetuamente
A liberdade morada,
E travão a ambição, e a lei templo.
As gentes à senda
Da imortalidade, árdua e fragosa,
Se animarão, citando vosso exemplo.
O emulará zelosa
Vossa posteridade, e novos nomes
Adicionando a fama
Aos que agora aclama,

“Filhos são estes, filhos
(Apregoará aos homens)
Dos que vencedores superaram
Dos Andes a cume;
Dos que em Boyacá, os que na areia
De Maipo e em Junín, e na campanha
Gloriosa de Apurima
Prostrar souberam ao leão da Espanha”.

Fuente:https://letralia.com/transletralia/transpoesia/2019/05/30/la-agricultura-de-la-zona-torrida-de-andres-bello-en-portugues/3/

Fuente de la imagen: https://letralia.com/transletralia/transpoesia/2019/05/30/la-agricultura-de-la-zona-torrida-de-andres-bello-en-portugues/3/

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